segunda-feira, 29 de junho de 2015

crônica crônica


Uma doença crônica, por definição da Wikipedia (vamos assumir que eles estão certos, por favor) é uma doença que não se resolve num curto espaço de tempo. Algo que tem seu modo de agir e, na medicina, deve durar mais de 3 ou 6 meses.  Os mais destemidos ousam falar em 1 ano.
            E eu gosto destes. Mas só porque essa é uma crônica de comemoração de 1 ano de blog. Será que posso considerar minhas crônicas crônicas? Cronicar cronicamente? É uma expressão de mau gosto? Usar um termo pejorativo, como uma doença que persiste por muito tempo, para definir meu modo de escrever semanalmente, religiosamente todas as Segundas-feiras?
            Apesar da aparência negativa, tenho encontrado muitas similaridades. Em muitos casos, a doença crônica, infelizmente, não tem cura. E cada vez mais que me examino chego no mesmo diagnóstico sobre cronicar: nunca mais parar. Se eu viver até os 80 anos, publicando uma crônica por semana, vou ter um quadro com mais de 2.900 crônicas. Parece bacana, uma boa meta. O médico pegaria carinhosamente no meu pé e diria que estou bem.
            Outra semelhança é o fato de ser temporal. De existir como um pedaço de tempo, um gerúndio. No caso das doenças, o gerúndio é sempre “piorando”. No caso das crônicas, espero que seja “aperfeiçoando”. Existe um desejo de crônicas crônicas que desejam ser cada dia melhores. Claro que há momentos bons e momentos ruins. Não quer dizer que a crônica de nº 2.900 será obrigatoriamente melhor que a coitada do nº 1.353.  Mas a evolução será perceptível para um leitor de tantas crônicas. Pelo menos, assim o é para o humilde escritor que vos fala.
            Atingir a marca de 1 ano de crônicas crônicas, com picos e baixas, com boas e ruins, com crônicas inteligentes e outras nem tanto, isso sim é uma conquista. Digna de aula magna na medicina. Cronicando por 365 dias, initerruptamente. Lealmente. Contente. Definitivamente. E, claro, cronicamente.

            Obrigado, leitores deste blog crônico. Espero que vocês tenham se contaminado dessa “doença” e continuem se contaminando.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

corte de cabelo

            Meus 12 anos foram muito produtivos para meu cabelo. Foi quando descobri que dava pra dividi-los no meio da cabeça e deixar crescer, ad eternum. Aos 15 eu tinha um cabelo digno de um skatista, aos 19, digno de um hippie dos anos 70. A barba começou a surgir e complementou o look para chegar ao auge com uns 21 anos. Look designed by Jesus.
            Depois de entrar na faculdade, percebi que o melhor jeito de economizar dinheiro era de fato cortando sozinho o cabelo. E como deixava sempre crescer até o ombro, dava pra ficar quase um ano sem pensar no assunto. Apesar dos grandes gaps de treino, confesso que o trabalho de auto cortar o cabelo se transformou numa pequena habilidade.
            E digo isso porque mesmo cortando sozinho, muitas vezes sem enxergar o possível estrago a ser feito, sempre saía mais satisfeito com o que eu faço do que quando pagamos de 10 a 150 reais para um corte de cabelo. Com todo respeito, claro, aos cabelereiros. É só uma questão de gosto, nada mais.
            Já até tentei, na onda de aperfeiçoar, deixar amigos cortarem o cabelo. Mas depois de ter que raspar um cabelo de mais de 30cm de comprimento por falhas técnicas da amizade, decidi parar. Preferia manter a amizade. E o cabelo. De novo, uma questão de gosto.
            Já foi moicano, já foi tererê, já foi raspa-zero, já foi com rabo de samurai, já foi exército, já foi o musical do Hair. Nunca foi emo, nunca foi pintado, e infelizmente, nunca foi dread. Já foi motivo de brigas familiares, já quase recebi propina para sabotar meu cabelo, já recebi críticas e elogios.
            De uma forma ou de outra, sempre fez parte da minha história. Ao invés de acessar as pastas mentais da minha cabeça por anos (começando em 1989 até hoje), ou por eventos marcantes (maternal, ginásio, colegial, primeiro emprego etc), consigo marcar minha trajetória por cortes (igual ao dos meus irmãos, separado no meio, cabeludo, hippie, corta logo se não vão te matar, fiquei feio de novo, estabilizou).
            A história do cabelo é a minha história. Quem eu fui, quem eu sou, e quem serei. Definitivamente, careca. Que a vida seja lisa no futuro.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

evolução

            Temos que deixar uma coisa clara: evolução vem para “evoluir”. Parece ingênuo falar isso, mas é importante ressaltar a frase. A gente não precisa mais de tanto pelo no corpo para se proteger se a gente pode construir um colete à prova de bala e, eventualmente, à prova de mordidas de ursos.
            E, por isso, é de maneira muito clara que vejo o porquê de não ter mais o rabo. Antigamente, antes dos tempos das cavernas, a gente tinha um rabo, e era muito parecido com o dos pobrezinhos habitantes do zoológico. O rabo era nosso quinto, ou sexto, membro. Equilíbrio, agilidade, e talvez, sensualidade, acreditando que exista fetiche para tudo.
            Mas, olha só, não temos mais rabo! Tã tã! Sabe porque? Porque somos seres urbanos, da cidade grande, cosmopolitas, e não existe espaço para o rabo. O tempo passou, evoluímos. Imagine entrar no metro às 18 horas e ficar tropeçando nos rabos alheios? Ou ir num restaurante e jurar que viu um rato, mas não, era só a nova moda de deixar o rabo exposto no meio da calça jeans.
            Não precisamos mais de equilíbrio: ficamos sentados quase o tempo todo, temos bengalas, cadeiras de rodas, carrinhos de golfe. Não precisamos ser ágeis se temos carros, aviões ou robôs que fazem o que a gente quer. E a sensualidade, bom, isso será sempre um problema a discutir do ser humano, com rabo ou sem rabo: precisamos de criatividade, nesse caso.
            Fica claro então que superamos o fato de não ter rabo, certo? Evoluímos. Seguimos os pressupostos de Darwin e os melhores adaptados conquistam o mundo. Se não temos rabo, é por um excelente motivo.
            Partindo do pressuposto que a gente tem que deixar para trás algumas coisas em prol de outras melhores, faça o seguinte: deixe para trás seu pensamento retrógrado, medieval, pré-histórico, preconceituoso, sem espaço no cenário atual e viva no mundo de hoje, evoluído e sem rabo. Obrigado.


segunda-feira, 8 de junho de 2015

eu sou o rambo


            Como todo bom adolescente curioso, sentei na cadeira do exame e fiquei uns 20 cm do meu braço, olhando cautelosamente aquela senhora tirar sangue da minha veia. Foi um primeiro pote, depois outro, depois outro. No quinto ou sexto, quando ela tirou e chacoalhou na minha frente, eu quase caí. No décimo, acho que caí na cama. Dá pra imaginar a bagunça.
            Depois desse primeiro exame, começou o bullying. Mas, meus caros, é importante frisar três fatos: não tenho medo, nem sinto dor e sim, tenho lindas veias para tirar sangue. O verdadeiro problema, porém, é a “noção”, a “consciência” do ato: estão tirando um pedaço líquido de você! Só eu percebo isso?! Arrancando fora, deixando um vácuo no seu corpo! É um absurdo e é óbvio que a mente reage a tudo isso.
            Naquela época, tive que ir mensalmente fazer exames de sangue. Depois de cair umas três vezes, comecei a elaborar um truque, uma manobra. Iria enganar minha mente, reverter esta questão totalmente psicológica. E, quer saber? Deu certo.
            Na oitava ou sétima vez, foi quando atingi o ápice da minha técnica anti-desmaio. Entrava na sala com fones de ouvido, partia pra ignorância e já avisava para os enfermeiros nem falarem comigo. Deitava na maca. Colocava a perna pra cima. Acionava minha playlist “power”, que tinham músicas como “Eyes of the tiger”,  do Rocky, e a trilha sonora de “Missão impossível”. Fechava os olhos e colocava o teatro para funcionar: Eu sou o Rambo. Eu sou o Rambo. Rambo jamais desmaiaria num exame de sangue. Rambo iria quebrar a agulha com seus músculos. Eu sou o Rambo.
            Fazia isso pelo tempo necessário até o término do exame. Saía da sala com a cabeça erguida, como se tivesse feito um favor à humanidade. Comia meu lanche e tomava meu suco, minhas recompensas. Mantendo a postura do personagem, sempre. Exibia o pequeno band-aid circular como uma cicatriz de guerra medieval.
            Havia vencido um mal, aprendido uma técnica milenar budista, dominado minha consciência e inconsciência. Um conquistador.
Poucas pessoas aprenderam a dominar seu medo. Bruce Wayne é uma delas. Eu sou outra. Eu sou o Rambo.      


segunda-feira, 1 de junho de 2015

cargos e responsabilidades


Não é fácil para ninguém trabalhar e entender os limites e fronteiras da sua função dentro da engrenagem da empresa. Para isso que servem os gerentes. Certo? Errado. Podem ser os coordenadores, analistas, os plenos, os juniores, os CEOs, CFOs, CBFs da vida.
            A grande dificuldade de nunca ter trabalhado numa multinacional, ou numa empresa com mais de 30 funcionários, é que não temos a menor ideia como funciona a graduação dos cargos de cada um e suas responsabilidades.
            Todos os administradores devem estar lendo isso e pensando que sou um imbecil. De fato, devo ser. Mas ninguém é obrigado a saber que o sênior é maior (ou não) que o pleno. Pleno! O cara deveria ser o dono da parada. Olá, sou pleno. Já resolveria tudo. Como pode um sênior ser maior? Sênior é velho.
            Gerente, então, nem se fale. Parece realmente gerente do mês de redes de fast food, com todo o respeito, claro. Mas sempre achei que um coordenador fosse um cargo maior. É? Não é? Não sei.
            Achava que o CEO era então o nome que se dava aos chefões, ou melhor, ao chefão. Ele é uno, singular, só ele. Tudo que sai da boca dele, é indiscutível. Mas, sabe como é, tem também os diretores, os presidentes, os vice-presidentes, os sócios, os estagiários e toda a galera que se acha dona da empresa.
            Vocês que me perdoem, mas essas nomenclaturas todas são muito chatas. Criaram para confundir vocês na hora de oferecer um cargo e um salário. Nem você deve saber qual de fato é sua posição dentro da empresa. Sabe dizer quantos cargos de distância você está do dono da parada? E do estagiário?
            Existe um nome para isso que claramente não vou lembrar agora, mas que define as falsas vitórias que cada um tem em seu trabalho. Se um dia minha pequena empresa crescer, vou dar nomes mais bacanas para os funcionários, que justifiquem sua promoção. Ou deixar que eles escolham como querem colocar no cartão de visitas deles e nas assinaturas de e-mail. Alfredo, de legionário do Excel para Gladiador de contas. Julia, de aprendiz de correria, para Senna da produção. Arthur, de motoboy do mal, para rei das entregas.

            Funciona para todos. Eu me sentiria mais estimulado se pudesse me chamar de Victor, o artesão das palavras. Muito mais legal.