segunda-feira, 4 de agosto de 2014

propaganda


Existe algo tão improvável (para não dizer impossível) quanto acordar num sábado de manhã, e, por favor a uma velha amiga, ir gravar uma propaganda para a faculdade. Dela. Favor. Grátis. Sábado de manhã. Não podia dizer não, não podia inventar uma desculpa. No impulso, por livre e espontânea vontade fui obrigado a aceitar.
            Mas o dia, por mais estranho que pareça, prometia algo maior. Se acreditasse fielmente em movimentos de energia, teria rolado um sismo energético nessa “madrugada” de sábado.
            Como de costume e carregando a boa educação que meus pais deram, fui com tudo sem reclamar, salvando essas palavras pra esta humilde crônica. Era um apartamento, perto de casa pelo menos. Entrei e com um sorriso na cara e força nos braços, apertei com um longo abraço minha amiga. Tudo bem, sou um cara do dia mesmo, não ia encher o saco por ser Sábado de manhã. E todos nós que já filmamos alguma coisa na vida sabemos que não há coisa melhor do que a colaboração de todos, como manda a etiqueta.
            Era uma propaganda. 30 segundos. Já tinha feito séries de 13 episódios. Isso ia ser “piece-of-cake”, nem deveria marcar tanto minha vida. Victor, você vai fazer um cara que está prestes a sair para jantar e fica pressionando sua mulher para ela ir mais rápido, pois está sempre atrasada e ainda falta pintar as unhas. Ela vai te irritar um pouquinho, mas vai usar o spray-esmalte que inventamos para a propaganda – que pinta as unhas na velocidade da luz. Ela levanta, dá um beijo em você e sai feliz.
            Se eu pudesse, algum dia na vida, gravar coisas que não sabia que seriam tão verdadeiras por muito tempo, teria o feito com essa frase. Podia ter cortado a parte do “spray-esmalte”, porque pouco me interessa. Ficaria com as palavras “sua mulher”, “sempre atrasada”, “ainda falta...”, “te irritar”, “dá um beijo”, “dá um beijo”, “dá um beijo” e finalmente, “sai feliz”.
            De repente, essa grande amiga tinha dito uma profecia, fez um encantamento com macumba e rezas, sangrou um bode e disse isso tudo. É impressionante como conseguiu sintetizar a vida.
            A “sua mulher” é minha namorada, que sim, está “sempre atrasada” e sempre “ainda falta...” alguma coisa. Mas quando começa a “te irritar”, ela “dá um beijo”, e depois ela “dá um beijo”, logo em seguida, ela “dá um beijo”, e finalmente “sai feliz”. A única coisa que faltou dizer na frase, mas não cabe às profecias dizerem tudo, era que eu seria o “homem mais feliz do mundo” até hoje. 

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