Existe algo tão
improvável (para não dizer impossível) quanto acordar num sábado de manhã, e,
por favor a uma velha amiga, ir gravar uma propaganda para a faculdade. Dela.
Favor. Grátis. Sábado de manhã. Não podia dizer não, não podia inventar uma
desculpa. No impulso, por livre e espontânea vontade fui obrigado a aceitar.
Mas
o dia, por mais estranho que pareça, prometia algo maior. Se acreditasse
fielmente em movimentos de energia, teria rolado um sismo energético nessa
“madrugada” de sábado.
Como
de costume e carregando a boa educação que meus pais deram, fui com tudo sem
reclamar, salvando essas palavras pra esta humilde crônica. Era um apartamento,
perto de casa pelo menos. Entrei e com um sorriso na cara e força nos braços,
apertei com um longo abraço minha amiga. Tudo bem, sou um cara do dia mesmo,
não ia encher o saco por ser Sábado de manhã. E todos nós que já filmamos
alguma coisa na vida sabemos que não há coisa melhor do que a colaboração de
todos, como manda a etiqueta.
Era
uma propaganda. 30 segundos. Já tinha feito séries de 13 episódios. Isso ia ser
“piece-of-cake”, nem deveria marcar tanto minha vida. Victor, você vai fazer um
cara que está prestes a sair para jantar e fica pressionando sua mulher para
ela ir mais rápido, pois está sempre atrasada e ainda falta pintar as unhas. Ela
vai te irritar um pouquinho, mas vai usar o spray-esmalte que inventamos para a
propaganda – que pinta as unhas na velocidade da luz. Ela levanta, dá um beijo
em você e sai feliz.
Se
eu pudesse, algum dia na vida, gravar coisas que não sabia que seriam tão
verdadeiras por muito tempo, teria o feito com essa frase. Podia ter cortado a
parte do “spray-esmalte”, porque pouco me interessa. Ficaria com as palavras
“sua mulher”, “sempre atrasada”, “ainda falta...”, “te irritar”, “dá um beijo”,
“dá um beijo”, “dá um beijo” e finalmente, “sai feliz”.
De
repente, essa grande amiga tinha dito uma profecia, fez um encantamento com
macumba e rezas, sangrou um bode e disse isso tudo. É impressionante como
conseguiu sintetizar a vida.
A
“sua mulher” é minha namorada, que sim, está “sempre atrasada” e sempre “ainda
falta...” alguma coisa. Mas quando começa a “te irritar”, ela “dá um beijo”, e
depois ela “dá um beijo”, logo em seguida, ela “dá um beijo”, e finalmente “sai
feliz”. A única coisa que faltou dizer na frase, mas não cabe às profecias
dizerem tudo, era que eu seria o “homem mais feliz do mundo” até hoje.
eu te amo!
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