segunda-feira, 23 de novembro de 2015

um sonho

Desde que comecei a ter pensamentos concretos sobre a vida, morte, amor, religião, enfim, temas importantes, sempre quis conseguir em algum momento emocionar as pessoas. Queria que todo mundo pudesse ter também aqueles 15 minutos de crise de identidade, de pensamentos profundos, de tomadas de decisão.
            Já tocava música, entrei no teatro, comecei a escrever, fiz faculdade de cinema, dei aulas, pós-graduação em roteiro, vídeos na internet. De forma geral, querendo comunicar, de mim para o outro. E sempre dizia que se eu alterar o curso de uma outra vida para melhor, meu trabalho estaria feito.
            Quero fazer os machões chorarem. Quero fazer as crianças terem ideias de adultos, e os adultos terem ideias de crianças. Quero fazer as mulheres não se sentirem de forma alguma menor que os homens. E que os homens se vejam frágeis como somos. Quero que os adolescentes não desperdicem a energia deles e consigam empurrar o mundo pra frente com seus sonhos. Quero que as pessoas criem suas próprias ideias, seus próprios conceitos, construam um desejo. Quero fazer um senhor bravo rir. Uma viúva acreditar no amor de novo. Fazer um desempregado achar que pode ser dono do mundo. E o dono do mundo se sentir desempregado.
            Em linhas gerais, fazer as pessoas sentirem, acreditarem. Seja lá em que for, mas  acreditarem que existe um propósito para elas. Para elas seguirem em frente. Um abraço hoje pode construir um ser humano capaz de acabar com as guerras no mundo daqui 20 anos. Uma lágrima derrubada hoje pode construir um ser humano capaz de criar filhos que mudem o mundo.
            É difícil perceber sua importância no universo, porque, enfim, somos muito pequenos e não conseguimos ver o futuro. Mas é uma questão de visualizar sua vida do fim pro começo. Pense onde quer estar, e fazendo o quê, e comece a ir até chegar no momento presente. A partir daí, só voltar e andar nessa direção. Se estiver no caminho errado, mude. Se estiver com medo, bem vindo ao time dos corajosos que temem. Se achar que não vai dar certo, prove que dará.

            O mundo precisa ser sonhado. Precisa ser refletido constantemente. Precisa ser pensado. Precisa ser apaixonante. Tudo isso para evitar o maior arrependimento que alguém pode ter em vida: deveria ter feito tudo diferente.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

o próximo livro


Depois de ter publicado o primeiro livro, você fica um tanto quanto viciado em publicar tudo que você já escreveu na vida. Das redações da Quinta série até os rabiscos e ideias para criar algum projeto, você acha que tudo é digno de ser lido por alguém, afinal de contas, você já é um autor publicado.
            E, de um tempo pra cá, fiquei pensando no que eu poderia escrever para não ser o cara chato que escreve qualquer coisa e insiste para que todo mundo leia... e goste. Antes de qualquer texto, me veio o título do livro: “Crônicas de um bêbado”. Achei espetacular. Daqueles livros que marcam. Fiquei com vontade de comprar em uma livraria, mas era preciso antes escrevê-lo.
            Comecei a pensar em todas as histórias de bêbados que meus amigos já vivenciaram – diga-se de passagem que não será autobiográfico, como sempre. E cada história é melhor que a outra. Cada situação é mais intensa que a outra. Lembrei de várias. Esbocei qualquer escrito para ver o que saía nas temerosas páginas em branco. E a cada página, vinham situações sensacionais.
            Depois de começar a escrever uma ou outra, percebi que só quando colocamos palavra atrás de palavra é que relembramos exatamente da história, e não de como costumamos contá-la. Lembrei de detalhes, de frases, de shots. Decidi escrever todas que conseguia encontrar na vastidão da memória, para nunca mais perder.
            O livro deve demorar para sair, já que outros projetos entram na frente na lista de prioridades. Mas continuo escrevendo, no presente, para não perder as histórias de 10 anos ou 10 minutos atrás. O objetivo único é eternizar essas situações que eventualmente iremos esquecer, querendo ou não.

            Existe uma chance de eu estar me dando um tiro no pé. Posso expor mais do que deveria e um dia escutar do meu filho que o que ele fez não foi nada comparado à crônica da página 76. Ou ninguém nunca vai ler e, como tantos outros livros, desaparecerão na memória ou empoeirados nas bibliotecas. Espero pelo menos atingir os que gostam de uma cervejinha. Saúde!

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

pedido de casamento

            
Como bom virginiano, tudo estava pronto. Tinha feito a música no violão, tinha combinado com o dono do lugar que a gente sempre vai para eu tocá-la, tinha comprado os anéis. Tinha escolhido a data de 07 de Novembro, dia que o “TPM, pra que te quero?” ia fazer 1 ano de existência. Tudo perfeito e organizado.
            Mas aí começaram os problemas. O anel dela chegou a tempo. O meu não. Era pra chegar na Sexta-feira, mas aquele prazo de “2 a 7 dias úteis” acabou virando “7 dias úteis” e eu fiquei sem. Mas tudo bem! O importante era ela ter o anel! O meu pode chegar outro dia, não tem problema.
            Consegui esconder o anel com a caixinha dentro do meu carro. Mas como ia colocar aquele caixinha/trombolho no meu bolso? Escolhi a calça mais larga para evitar suspeitas. Consegui sair do carro e colocar no bolso de trás, um pequeno tumor na nádega esquerda. Mas tudo bem! Ela não percebeu, e isso é ótimo!
            Andamos até o restaurante, com meu coração batendo a mil por hora. Chegamos na porta e, pronto, estava fechado. FECHADO. Não sabia se ria ou chorava. Pensei em tudo: adiar, ir para outro bar, matar o dono, achar um violão na Teodoro Sampaio para tocar a música. No bar do lado, estava o dono do estabelecimento. Questionei e ele afirmou, sem medo: estamos sem água, não posso abrir o restaurante. Mas tudo bem! Estamos em Pinheiros, São Paulo. Restaurante é o que não falta.
            Na boa fé e determinação, procuramos na internet rapidamente alguns lugares. Caminhamos e quase entramos em um restaurante completamente vegano. Desistimos por que, ao lado, tinha um outro, mais interessante e simpático. E servia carne. Entramos e, pela sorte que temos, tinha o tão desejado clericot. Pedimos uma jarra.
            Nesse momento, a Ju já esperava. Não conseguia trocar uma palavra comigo. Ficava olhando apaixonada, com aqueles olhos que diziam “sim, eu aceito”. Como nossa vida, tive que improvisar. Mas tudo bem! Sabemos fazer isso. Ao invés de cantar, li a letra da música. E pedi minha namorada em casamento.
            Ela aceitou, em lágrimas conjuntas com as minhas. Ficamos noivos. Chegaram dois cachorros para comemorar com a gente, um Border e um Golden. Um sinal, já que quase ficamos noivos para poder ter uma casa para poder ter um Border (sim?).
            Um final de semana de festas. Uma decisão nossa, que agora é só para o resto das nossas vidas. Uma metáfora de como lidamos com a vida: nossos copos estão sempre meio cheios. De clericot – outra jarra, por favor. Com música, com cachorro, com festa, com risos e lágrimas. Cheios de improvisos, viveremos a vida mais linda que há para nós, um dia após o outro, sabendo que, quando fecham uma porta, abrem outras tantas.

            Obrigado por aceitar a fazer parte da maior aventura das nossas vidas. Te amo, noiva.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

pesquisa online

            

Outro dia, um tio meu se gabava para mim que era um profissional em encontrar respostas na vastidão da internet. Quando ele afirmou essa habilidade, eu dei risada. Achei o tio “velho demais”. Afinal de contas, pesquisar na internet é a coisa mais fácil do mundo.
            Mas fiquei com a imagem do meu tio se gabando. Depois de rir e ficar com dó, pensei mais a fundo. Afinal de contas, quando pesquisamos algo no Google, ele devolve para nós mais de um trilhão de resultados. O que significa que, para encontrar algo na internet, você precisa ser absolutamente específico.
            Não adianta procurar por “elefantes” se você está querendo saber o que eles comem. Não adianta procurar por “viagens” se você está tem dúvida para onde ir. Não adianta procurar “celular” se você precisa encontrar a solução de como consertá-lo.
            Essas besteiras todas tem um motivo para estar aqui: somos, atualmente, condicionados a sermos específicos e detalhistas em tudo que queremos, escolhemos e pensamos. Suas buscas online são absolutamente definidas: “celular apaga quando acesso aplicativo X, o que fazer”, ou “elefante de circo morando em clima tropical, 6 anos, sem restrição alimentar, nutricionista”. Ou mesmo “sou moreno, 33 anos, namorando, pouco dinheiro, para onde viajar”.
            E o pior disso tudo é que sempre terá alguma resposta. E eu enxergo aí um pequeno problema: não precisamos mais pensar. A internet virou nosso Deus, com todas as respostas que queremos.

            Se até meu tio consegue achar o que quer na internet, o que será dos meus filhos? Nunca vão colocar a mão no fogo para ver se queima porque vão ter lido que isso, de fato, acontece. A internet sabe de tudo. Que saco.