Como já foi dito em outras crônicas, meu
cachorro, Jack, foi adotado. Haviam esperanças de que, quando pequeno, se
transformasse num cão grande, de raça e pelo curto. Só o pelo se cumpriu, mas
sempre que ele entra no meu carro, parece que um barbeiro despejou seu lixo
diário no banco de trás.
Ele
é um vira-lata, claro. Ninguém ia colocar para adotar na feira da esquina um
Golden ou um Pug. Adotamos um cachorro pretinho, gordinho, com traços de
cachorro grande. Hoje temos um cão magrela, marrom, preto e qualquer outra
variação entre essas cores possíveis e com cara de vira-lata assumido. Saiu do
armário e vestiu a camisa.
Além
de traços particulares a cães vira-latas, tem um ponto que queria colocar aqui.
Vira-lata é uma raça. Tudo bem, começou com uma mistura de raças, mas, quantos
outros não começaram assim também? (adoraria dar um exemplo daqueles que
deixaria você de boca aberta, mas não tenho a menor ideia. Só sei que tem.
Ponto, confia em mim). E sabe porque sei disso? Da mesma forma que você, dono
de cães de luxo, também vê seu cachorro andando na coleira de outras pessoas! Isso acontece comigo também.
O
Jack tinha muitos, mas muitos primos. Imaginei todos eles vivendo num cortiço,
todos iguais, com traços diferentes. Quantas vezes já não vi meu cachorro
caminhando no Ibirapuera, ou nos vãos de concreto da USP, ou acompanhando
carrinhos de mendigos?! Ou mesmo quando íamos para Campos do Jordão, e pronto,
lá estava ele de novo.
A
conclusão dessa crônica é simples: existe a raça dos vira-latas. E uma
missão de vida é transformar o Jack, ou qualquer parente de primeiro grau dele,
em cães-modelos. Quero ver estampar a cara do meu vira-lata no pacote de ração,
nas propagandas de margarina, nos filmes de Hollywood. Quero vencer o prêmio de
Cachorro do Ano com ele, deixando o segundo ou terceiro lugar para Borders,
Bernesses e Beagles.
Digam
o que quiserem, mas a raça do meu vira-lata é pura, e um dia essa crônica vai
ser vista como uma profecia da mudança dos tempos. Meu conselho: adote um
enquanto pode. Em breve ninguém mais vai querer um Dog Alemão ou um
“Beethoven”... vão sobrar cães de raça para serem adotados e vamos ver no
Ibirapuera, na USP ou com mendigos inúmeros Terriers, Salsichas ou Lulu dos
Boomerangs (nunca vou saber escrever esse último e estou com preguiça de checar
no Google).