segunda-feira, 27 de outubro de 2014

a raça do meu cachorro

Como já foi dito em outras crônicas, meu cachorro, Jack, foi adotado. Haviam esperanças de que, quando pequeno, se transformasse num cão grande, de raça e pelo curto. Só o pelo se cumpriu, mas sempre que ele entra no meu carro, parece que um barbeiro despejou seu lixo diário no banco de trás.
            Ele é um vira-lata, claro. Ninguém ia colocar para adotar na feira da esquina um Golden ou um Pug. Adotamos um cachorro pretinho, gordinho, com traços de cachorro grande. Hoje temos um cão magrela, marrom, preto e qualquer outra variação entre essas cores possíveis e com cara de vira-lata assumido. Saiu do armário e vestiu a camisa.
            Além de traços particulares a cães vira-latas, tem um ponto que queria colocar aqui. Vira-lata é uma raça. Tudo bem, começou com uma mistura de raças, mas, quantos outros não começaram assim também? (adoraria dar um exemplo daqueles que deixaria você de boca aberta, mas não tenho a menor ideia. Só sei que tem. Ponto, confia em mim). E sabe porque sei disso? Da mesma forma que você, dono de cães de luxo, também vê seu cachorro andando na coleira de outras pessoas! Isso acontece comigo também.
            O Jack tinha muitos, mas muitos primos. Imaginei todos eles vivendo num cortiço, todos iguais, com traços diferentes. Quantas vezes já não vi meu cachorro caminhando no Ibirapuera, ou nos vãos de concreto da USP, ou acompanhando carrinhos de mendigos?! Ou mesmo quando íamos para Campos do Jordão, e pronto, lá estava ele de novo.
            A conclusão dessa crônica é simples: existe a raça dos vira-latas. E uma missão de vida é transformar o Jack, ou qualquer parente de primeiro grau dele, em cães-modelos. Quero ver estampar a cara do meu vira-lata no pacote de ração, nas propagandas de margarina, nos filmes de Hollywood. Quero vencer o prêmio de Cachorro do Ano com ele, deixando o segundo ou terceiro lugar para Borders, Bernesses e Beagles.

            Digam o que quiserem, mas a raça do meu vira-lata é pura, e um dia essa crônica vai ser vista como uma profecia da mudança dos tempos. Meu conselho: adote um enquanto pode. Em breve ninguém mais vai querer um Dog Alemão ou um “Beethoven”... vão sobrar cães de raça para serem adotados e vamos ver no Ibirapuera, na USP ou com mendigos inúmeros Terriers, Salsichas ou Lulu dos Boomerangs (nunca vou saber escrever esse último e estou com preguiça de checar no Google).

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