Não sei exatamente se é coisa da minha
geração, ou da minha criação, da família, da cidade, do país. Não sei
exatamente de onde vem isso, mas existe em todas as casas, e nunca soube
exatamente o que era.
Quase
todas as casas, no banheiro tem a pia, o chuveiro, a privada... e a porra do
bidê. Pra que raios serve isso?
Enquanto
usufruo de um dos três utensílios do banheiro que de fato tem uma finalidade,
fico pensando sobre as funções de um bidê. Passei a entender que é algo antigo,
retrógrado, que nunca mais se usou, tipo o apêndice.
Nos
últimos anos, desde que me lembro, bidê é sinônimo de “criado-mudo do
banheiro”. Coloco os papéis higiênicos extras. Todos os livros, revistas e
gibis. De vez em quando, encontro alguns cadernos para escrever e rabiscar.
Mas
fico pensando que não somos tão burros e ninguém faria um criado-mudo com esse
estilo, tão “privada”. E então esvaziei o criado-mudo para entender sua
aerodinâmica e quem sabe, decifrar o porquê da sua existência.
Inicialmente,
me parecia um jeito mais fácil e simples de lavar os pés. Sempre que estou com
preguiça de tomar banho e quero ir logo dormir, tenho que lavar os pés na pia.
Mas acontece que a pia é alta e não foi feita pra isso, o que resultou na
quebra da “cuba” do meu banheiro, quando eu apoiei o pé tentando me equilibrar.
Definitivamente, o bidê era mais fácil.
Estava
olhando friamente para o bidê. A imagem veio rasgando: é uma privada não
confortável! Mas não era possível que alguém seria idiota o suficiente para
fazer suas necessidades numa privada que tem um jatinho de água pra cima e um
ralo que não passa, vamos dizer, muita coisa.
E
então entendi: serve, de fato, para limpar. Mas a bunda. E quanto mais eu
procurava no Google as possíveis explicações, com imagens, listas, tutoriais,
how-to, mais ficava assustado. Parecia um instrumento de tortura que eu deveria
saber usar faz muito tempo.
E
agora, sempre que me deparo com o bidê e com sua verdadeira finalidade, fico em
crise ao imaginar as pessoas colocando em suas casas como um móvel chique, de
orgulho. “Vejam meu banheiro, temos um bidê. Compramos na Quinta Avenida. Não é
lindo?”