Recentemente, minha namorada gravou um
episódio do “TPM, pra que te quero?” ensinando a fazer churros. Quando vi o
prato pronto, a ambiguidade me acertou em cheio na cara: bom ou ruim? Gosto ou
não gosto? O passado voltou na minha pele.
Isso
veio de um trauma que minha querida avó materna me passou e, tadinha, ela nem
tem ideia quando foi, porque foi, ou mesmo que traumatizou tanto um neto a
comer churros.
Tinha
(ainda tem) um bendito restaurante que meu pai levava a gente todos os sábados,
às 19 horas. A gente pedia a saladinha da casa, tomava uma Sprite, dividia um
bife de tira em 4 e, vez ou outra, comia uma torta holandesa. Era o melhor
restaurante do planeta e a gente conhecia todo mundo, a cozinha, tudo. O famoso
e saudoso Churrasco’s.
Viu
a semelhança? Mas, espere. A gente era íntimo do restaurante. Não era dessa
laia que vinha pelo FourSquare ou grupo de descontos do Groupon. A gente
chegava e nem precisa fazer o pedido. Já sabiam o que todos queriam, e quem não
sabe, somos em muitos na família. Ou seja, íntimos, parceiros, amigos,
queridos, saudade. Tão íntimo que chamávamos o local de “Churras”.
E
foi numa volta do sítio dos meus avos que minha avó comeu um pedaço da vogal e
ofereceu “churr_s” para os netos. Com a fome que eu estava, e a saudade de não
ter ido no sábado por estar no sítio, fiquei maluco. Perdi o controle, quase
berrei “SIM! PELO AMOR DE DEUS!”. E meu estômago começou a saborear o delicioso
bife de tira com o sangue que a gente limpava depois com meio pão de queijo. A
vida parecia ter sentido. O manjar dos deuses. O paraíso na terra.
Claramente,
quando chegou aquela coisa gosmenta na minha mão, que eu desconhecia, e também
displicentemente chamada de “churros”, meu estômago revirou. Tentei dar uma
mordida, mas fracassei. Fiz corpo fechado para o churros. Fiz macumba. Fiz um
voodoo em forma de churros. Mas sempre que mandava minha maldição ao doce, era
muito claro ao pronunciar a vogal certa. Alguns enganos são muito doloridos de
engolir.
Experimentei
um pedaço e amei.
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