segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

abstinência

Define-se pelo fato de abster-se de algo, privar-se de algo. Além de outras coisas, me privei por duas semanas de escrever aqui. Foi estranho, foi esquisito. Passei pelos sei-lá-quantos-passos até chegar na “aceitação”. Fui além e voltei atrás. É preciso escrever. É preciso quebrar o jejum de duas semanas.
            Foi necessário um trabalho contínuo para me afastar das crônicas semanais. Um trabalho, infelizmente, nada árduo. Bem fácil e simples: não escrever. A justificativa que me dei era a falta de assunto. Procurava pelo meu quarto e já havia escrito sobre livros, sobre filmes, sobre o pé de pimenta e sobre qualquer outra coisa que pairava neste ambiente. Definitivamente, me abstive.
            E não gostei. Parece que eu antigamente sabia mais do que eu hoje e, com tal sabedoria, me obriguei a escrever semanalmente. Quer queira, quer não. Há duas semanas resolvi contestar a sábia decisão que havia tomado há mais de 1 ano e meio. Enfrentei, briguei, negligenciei. E passei duas semanas sentindo que havia um vazio-sei-lá-da-onde em mim.
            Tive que voltar. Preparar tudo novamente e acatar com o recado que meu eu de antigamente deixou na agenda “Escrever crônica”. Nós somos capazes de coisas inimagináveis, como de se comunicar com o seu “eu futuro”, sabendo que em algum momento ele precisará de um suporte emocional para continuar.
            Tendo em visto que tal abstinência me colocou em contato com o meu passado, penso agora nas sábias decisões que poderia obrigar meu “futuro eu”. Mesmo que em algum momento, a contragosto, o “futuro eu” decida parar e refletir sobre isso. Pediria para tomar mais água com limão, quem sabe. Parece fazer um bem danado. Mas nem o “eu presente” tem conseguido tal façanha.

            A verdade é que se abster de algo te propõe necessariamente a reflexão sobre uma premissa que você se dava por certa. E, geralmente, estava mesmo. Se você tomou uma decisão, provavelmente havia motivos suficientes para acatá-la. É para escrever toda semana? Desculpe a ausência, a abstinência e a malemolência. Escreverei. Obrigado “eu de antigamente” por me conhecer melhor do que meu “eu de hoje”.

Um comentário:

  1. Eu costumo encontrar umas ordens do passado dizendo "corra três vezes por semana", "visite os antigos colegas de escola", "faça um trabalho voluntário". Não sei quando foi que me tornei tão rebelde e passei a me desrespeitar.

    http://asmelhorescronicas.blogspot.com.br/

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