terça-feira, 4 de novembro de 2014

os piores presentes mais úteis de se ganhar

            Infelizmente, temos um grande preconceito ao ganhar certos tipos de presentes. Fico indignado, pois sempre fui partidário do “cavalo dado não se olha os dentes”. Temos que ficar agradecidos. Mas claramente não é a façanha mais fácil do mundo. Muitas vezes pelo presente em si.
Podemos ganhar algo que sempre queremos ganhar (cabe aqui o famoso “vale presente”, dinheiro, filmes); podemos também ganhar algo que não queremos ganhar (aqui, colocaria objetos como sabonete, caneta, camisa polo); mas também podemos ganhar algo que não queríamos ganhar, mas no fundo, ficamos extremamente gratos. 
Essa última categoria é a mais surpreendente. Parece que as pessoas mais esquisitas acertam os presentes que você mais queria, de uma maneira ou de outra. E que você mesmo sempre considerou um “não-presente”, mico.
Por exemplo, tenho uma tia que tem mania de dar samba-canção. Não sei se sou esquisito, ou se tenho manias estranhas, mas nunca pensei em dar samba-canção de presente. E quer saber? Uso sempre. Um dos melhores presentes que já ganhei na vida.
Outro tio, certa vez, me deu um pendrive de 2Gb. Na época, conseguia colocar praticamente todos meus arquivos da vida nisso. Usei por anos a fio e ainda uso. O coitado do aparelho, no dia que abri o embrulho, ganhou um sorriso amarelo meu. E mesmo assim foi sempre fiel ao dono e nunca deu pau.
No mundo do cinema, então, a gente fica acostumado aos brindes. E por mais que não use as malditas camisetas dos filmes, sempre gostei de ganhar. Fui uma vez a uma pré-estreia e pronto, não tinha camiseta, tinha um shampoo. Mas que cazzo! Outra vítima do sorriso amarelo, mas que provou ser o melhor shampoo que já usei na vida.
Mas o melhor mesmo, é quando você é surpreendido. E a melhor surpresa é quando você contradiz o próprio título da crônica e ganha o melhor presente mais inútil possível. E nessa lacuna tenho que agradecer minha avó do lado de pai.
Já ganhei de tudo dela, mas sua predileção é pelas coisas do pai dela, que me passa como se fosse herança. Ganhar uma luneta com as inicias do seu bisavô - uma luneta tão velha que enxergar a olho nu é melhor – é um mergulho na própria imaginação e na história de toda sua família, revisitando lugares que provavelmente nunca existiram, mas na sua cabeça, são os lugares que aquela luneta já enxergou. Uma África desconhecida, um império Romano decadente, uma exploração no fundo do mar, um bisavô pirata, soldado, camponês, médico.
Presente de verdade mesmo é uma ideia com outras mil ideias dentro. Nada de camisa polo ou vale-presente.

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