segunda-feira, 14 de setembro de 2015

lixo do banheiro

            
Nunca esqueci uma história do Cebolinha e do Cascão que passam a ser investigadores profissionais só de pesquisar o que cada um jogava no lixo. Adorava ler os gibis da Turma da Mônica e essa anedota me marcou profundamente.
            Marcou pelo fato de que passei a analisar “lixos” também. Tentava enxergar as mil e uma possibilidades existentes com os restos mortais jogados para o inferno. É possível descobrir um bocado de coisas sobre alguém ao ver o que ele joga no lixo. Lembrando que não sou um porco e não fico mexendo no lixo: minhas análises, infelizmente, tem que ser superficiais, apenas ao alcance dos olhos.
            E, diante desta inquietude,  percebi um fenômeno que acontece na minha casa. Se por um lado os lixos dos quartos são simples, como contas velhas rasgadas, restos de lápis, unhas, e eventualmente uma casca de banana, o conteúdo dos lixos dos banheiros é infinitamente mais interessante e instigante.
            O banheiro fica no corredor, portanto, é de uso coletivo. É aí que mora o problema. As pessoas tem coisas para jogar no lixo que certamente comprometem o arremessador. Para evitar tamanho constrangimento, jogam no lixo do banheiro, onde sua identidade é preservada.
            Por exemplo, é de comum ocorrência descobrir latas de cerveja no lixo do banheiro. Latas que, por sua vez, não estavam lá até o finzinho da noite anterior. O que significa que alguém necessitou tomar uma cerveja de madrugada – o que não tem problema algum. Mas, se não tivesse problema, não teria se dado o trabalho de jogar no lixo do banheiro. Entende?
            Outro fator que marca a existência do lixo do banheiro como fator primordial de investigação é na época do Natal. Pelo simples interesse em manter o seu próprio quarto arrumado, todos os embrulhos de presentes voam diretamente para a cesta de lixo do banheiro, causando, claramente, pouco espaço para o que deveria ocupar tal lugar. Claro que não há problema algum, mas o fato de que tiram dos embrulhos as etiquetas com os nomes dos endereçados, ah, isso é interessante. Há algo de errado, penso eu. Algo de podre.
            CDs riscados regraváveis – por que não assumir como seu e jogar no próprio lixo? Hum. Entendi. Caixas de papelão que mal cabem no banheiro – por que não levar para a rua já? Preguiça? Medo? Hum. Sei. Fotografias picadas para não se reconhecer o rosto – por que tão pequenos os cortes? Se fosse no seu lixo, saberíamos que tem algo ou alguém que queira esconder do resto. Saquei.
            O lixo do banheiro é terra de ninguém. Lá não é preciso se identificar; nele, cada um pode ser como quiser ser sem ter medo de julgamentos. O lixo do banheiro permite uma liberdade e um alívio, ao mesmo tempo. E por isso é tão apreciado pelos moradores da casa.

            Mas eu alerto: fiquem cientes, não há muito o que fazer num banheiro e portanto o lixo passa a ser uma incógnita a ser desvendada. É como se entrássemos numa sala branca e só houvesse uma cesta de lixo. Eventualmente, você vai investigá-la e, como todo bom lixo de banheiro, vai descobrir mistérios nunca antes revelados. Vou descobrir e você, assim como o Cebolinha, vai suspirar: “agola felou”.

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