Nunca
esqueci uma história do Cebolinha e do Cascão que passam a ser investigadores
profissionais só de pesquisar o que cada um jogava no lixo. Adorava ler os
gibis da Turma da Mônica e essa anedota me marcou profundamente.
Marcou
pelo fato de que passei a analisar “lixos” também. Tentava enxergar as mil e
uma possibilidades existentes com os restos mortais jogados para o inferno. É
possível descobrir um bocado de coisas sobre alguém ao ver o que ele joga no
lixo. Lembrando que não sou um porco e não fico mexendo no lixo: minhas
análises, infelizmente, tem que ser superficiais, apenas ao alcance dos olhos.
E,
diante desta inquietude, percebi um
fenômeno que acontece na minha casa. Se por um lado os lixos dos quartos são
simples, como contas velhas rasgadas, restos de lápis, unhas, e eventualmente
uma casca de banana, o conteúdo dos lixos dos banheiros é infinitamente mais
interessante e instigante.
O
banheiro fica no corredor, portanto, é de uso coletivo. É aí que mora o
problema. As pessoas tem coisas para jogar no lixo que certamente comprometem o
arremessador. Para evitar tamanho constrangimento, jogam no lixo do banheiro,
onde sua identidade é preservada.
Por
exemplo, é de comum ocorrência descobrir latas de cerveja no lixo do banheiro.
Latas que, por sua vez, não estavam lá até o finzinho da noite anterior. O que
significa que alguém necessitou tomar uma cerveja de madrugada – o que não tem
problema algum. Mas, se não tivesse problema, não teria se dado o trabalho de jogar
no lixo do banheiro. Entende?
Outro
fator que marca a existência do lixo do banheiro como fator primordial de
investigação é na época do Natal. Pelo simples interesse em manter o seu
próprio quarto arrumado, todos os embrulhos de presentes voam diretamente para
a cesta de lixo do banheiro, causando, claramente, pouco espaço para o que
deveria ocupar tal lugar. Claro que não há problema algum, mas o fato de que
tiram dos embrulhos as etiquetas com os nomes dos endereçados, ah, isso é
interessante. Há algo de errado, penso eu. Algo de podre.
CDs
riscados regraváveis – por que não assumir como seu e jogar no próprio lixo?
Hum. Entendi. Caixas de papelão que mal cabem no banheiro – por que não levar
para a rua já? Preguiça? Medo? Hum. Sei. Fotografias picadas para não se
reconhecer o rosto – por que tão pequenos os cortes? Se fosse no seu lixo,
saberíamos que tem algo ou alguém que queira esconder do resto. Saquei.
O
lixo do banheiro é terra de ninguém. Lá não é preciso se identificar; nele,
cada um pode ser como quiser ser sem ter medo de julgamentos. O lixo do
banheiro permite uma liberdade e um alívio, ao mesmo tempo. E por isso é tão
apreciado pelos moradores da casa.
Mas
eu alerto: fiquem cientes, não há muito o que fazer num banheiro e portanto o
lixo passa a ser uma incógnita a ser desvendada. É como se entrássemos numa
sala branca e só houvesse uma cesta de lixo. Eventualmente, você vai investigá-la
e, como todo bom lixo de banheiro, vai descobrir mistérios nunca antes
revelados. Vou descobrir e você, assim como o Cebolinha, vai suspirar: “agola
felou”.
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