Tudo posso
naquele que me fortalece. Sempre achei essa frase meio errada, meio falsa.
Odiava academia. Odeio academia. Odiarei academia. E se houve outro tempo que
não esses, estaria conjugando o verbo nele também.
Alguns motivos
me levaram a esta conclusão. Nunca foi precipitado, portanto tive que
experimentar deste local em que o trabalho escravo é feito por nenhuma
remuneração clara (não que algum trabalho escravo seja remunerado, uso apenas como
força de expressão). Um dos presentes do meu pai para os filhos que iam bem na
escola era matricular na academia nas férias. Não sei da onde que aceitei esse
convite: preferia minha parte em dinheiro, ingressos de cinema, fichas no Hot
Zone do shopping Morumbi. Mas não, achei que ia ser legal, ainda mais porque
fui o único filho que ganhou o presente na íntegra: férias inteiras. Os outros
pegaram alguma recuperação e não receberam o “biskrok” paternal.
Entrei na
academia e morria de vergonha de falar com as pessoas ou com os instrutores. O
cara me fez um plano de exercícios que era para durar uma semana: de 7 em 7
dias vamos alterando. Morria de vergonha e remei no mesmo navio pelos 2 meses
de férias.
O problema da
vergonha não era social: me dava bem com qualquer sujeito, nunca tive
problemas. Mas na academia, quando todos estão numa lavoura competitiva, tudo é
diferente. Lembro claramente eu puxando em cada mão um peso de 5. Não sei se
eram Kg, ou Libras, ou gramas. Mas era o número 5. Me olhava no espelho em
busca de uma justificativa para estar lá. E foi quando descobri uma senhora com
6 vezes mais minha idade carregando 20 em cada braço. A vergonha era imensa,
queria entrar em qualquer lugar e me esconder, mas tudo em academias são espelhos
e não ia dar certo. Me enganei culpando a “experiência”.
Foi quando tive
a brilhante ideia: sou jovem, sou magro, demoro para cansar. A academia tinha
uma pista de corrida externa, acima do navio negreiro. Subi e resolvi correr. A
pista era pequena e era impossível alguém mensurar quanto você já tinha
corrido. Então ficava lá correndo, sem parar, passando pelos mesmos pontos toda
vez. E ficava suado, e cansado, mas as pessoas me olhavam com orgulho e eu entendi
que lá a vergonha não existia, lá era onde ficavam os portugueses, que fazem
menos do que aparentam fazer. Larguei os remos e fui curtir minhas férias de
adolescente no antigo continente, longe dos sofrimentos da escravidão.
amei seus textos
ResponderExcluirlí vários
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