Hoje resolvi usar um brinquedo que comprei
quando fui para os Estados Unidos. Meu mini skate com rodas de gel grandes,
para usar na rua. Para os que não me conhecem, eu, no auge dos 15, 16 anos,
andava de skate. Não esses longs que estão na moda, aquele skate de manobra.
Eu, todos meus irmãos, todos meus primos, todos meus amigos. Era um negócio de
outro planeta. Claro que ninguém era bom o suficiente para seguir carreira com
isso, mas eu gostava da parada.
Com
o tempo, cada um foi deixando seu skate na prateleira e até hoje tropeçamos em
peças de skates velhos nos porões da vida. Rodas aqui, rolamentos pra lá. Um
truck que virou cabide. Um shape que virou quadro. Skate fez parte da nossa
infância.
Em
terras do bom e velho Sr. Walt Disney, me deparei com um skate mini, com rodas
de gel grandes, para usar na rua. Cocei a cabeça, a namorada olhou para o outro
lado, e joguei pra dentro do carrinho sem avisar ninguém. Fez boa viagem? Foi
ótimo! Nem na alfândega me pararam.
O
problema é que o mini skate ficou com a mesma importância valiosa que os
outros: de enfeite. Por diversos motivos, claro, mas principalmente porque o
skate não é mais uma prioridade como era antes: acordava as 6 da manhã
espontaneamente e ia acordar os vizinhos e família com o barulho do skate. Hoje,
já tenho mil coisas pra fazer, e andar de skate é um dos entretenimentos que
posso curtir quando tem tempo. Mas ele tá um pouco pra baixo demais na lista
para de fato acontecer.
Mas
hoje sobrou tempo. Estudei, li, escrevi, toquei música, brinquei de DJ, tomei
sol, brinquei com o Jack, comi uma mexerica. Lá pelas tantas, ainda tinha
tempo. E eu precisava comprar um tênis novo no shopping: longe demais para ir a
pé, perto demais para ir de carro. E a bike tá sem cadeado. Pronto, brilhou o
skate! Tomou vida, saiu do enfeite e veio para meus pés. Como a bicicleta, uma
vez de pé no skate, nunca mais desaprendemos.
O
caminho de ida foi turbulento. Se a cidade já é uma grande m*&^a para andar
de bicicleta com aquelas rodas gigantes de mountain bike, o que seria do meu
pobre skate com rodas de gel? Foi difícil, mas curti, cheguei, comprei e saí
logo de lá. (Confesso que deu vontade de dar uma volta de skate no chão do
shopping de tão liso que é).
Mas
a crônica só veio por um motivo. A volta. Entre ruas e pedras e quase tombos, o
farol dos carros apagou e vi a rua inteira livre. Fui no pau! Rápido e veloz. E
quando vejo, 5 sujeitos vindo na direção contrária de skate também! Minha
gangue! Meus parças! Um por todos! Todos pelo skate! A liberdade zunia nos meus
ouvidos vendo todos chegarem. O primeiro passou por mim, com vergonha, mas
depois do terceiro, rolou um: E ae mano do skate! Opa opa opa! Aee porra! No
último, não resisti. Mandei um high-five e continuamos viagem, cada um pro seu
lado. Sensacional.
E
ai cheguei em casa e olhei no espelho. Um homem de 48 anos. Que comprou um
skate há 24 anos e voltou a usar agora. A vida passa. A namorada é esposa. E
aquela gangue tem idade para ser meus filhos. Passou rápido, mas veio como um
turbilhão. Com direito à high-five e liberdade infinita.
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