segunda-feira, 8 de junho de 2015

eu sou o rambo


            Como todo bom adolescente curioso, sentei na cadeira do exame e fiquei uns 20 cm do meu braço, olhando cautelosamente aquela senhora tirar sangue da minha veia. Foi um primeiro pote, depois outro, depois outro. No quinto ou sexto, quando ela tirou e chacoalhou na minha frente, eu quase caí. No décimo, acho que caí na cama. Dá pra imaginar a bagunça.
            Depois desse primeiro exame, começou o bullying. Mas, meus caros, é importante frisar três fatos: não tenho medo, nem sinto dor e sim, tenho lindas veias para tirar sangue. O verdadeiro problema, porém, é a “noção”, a “consciência” do ato: estão tirando um pedaço líquido de você! Só eu percebo isso?! Arrancando fora, deixando um vácuo no seu corpo! É um absurdo e é óbvio que a mente reage a tudo isso.
            Naquela época, tive que ir mensalmente fazer exames de sangue. Depois de cair umas três vezes, comecei a elaborar um truque, uma manobra. Iria enganar minha mente, reverter esta questão totalmente psicológica. E, quer saber? Deu certo.
            Na oitava ou sétima vez, foi quando atingi o ápice da minha técnica anti-desmaio. Entrava na sala com fones de ouvido, partia pra ignorância e já avisava para os enfermeiros nem falarem comigo. Deitava na maca. Colocava a perna pra cima. Acionava minha playlist “power”, que tinham músicas como “Eyes of the tiger”,  do Rocky, e a trilha sonora de “Missão impossível”. Fechava os olhos e colocava o teatro para funcionar: Eu sou o Rambo. Eu sou o Rambo. Rambo jamais desmaiaria num exame de sangue. Rambo iria quebrar a agulha com seus músculos. Eu sou o Rambo.
            Fazia isso pelo tempo necessário até o término do exame. Saía da sala com a cabeça erguida, como se tivesse feito um favor à humanidade. Comia meu lanche e tomava meu suco, minhas recompensas. Mantendo a postura do personagem, sempre. Exibia o pequeno band-aid circular como uma cicatriz de guerra medieval.
            Havia vencido um mal, aprendido uma técnica milenar budista, dominado minha consciência e inconsciência. Um conquistador.
Poucas pessoas aprenderam a dominar seu medo. Bruce Wayne é uma delas. Eu sou outra. Eu sou o Rambo.      


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