Como
todo bom adolescente curioso, sentei na cadeira do exame e fiquei uns 20 cm do
meu braço, olhando cautelosamente aquela senhora tirar sangue da minha veia.
Foi um primeiro pote, depois outro, depois outro. No quinto ou sexto, quando
ela tirou e chacoalhou na minha frente, eu quase caí. No décimo, acho que caí
na cama. Dá pra imaginar a bagunça.
Depois
desse primeiro exame, começou o bullying. Mas, meus caros, é importante frisar
três fatos: não tenho medo, nem sinto dor e sim, tenho lindas veias para tirar
sangue. O verdadeiro problema, porém, é a “noção”, a “consciência” do ato:
estão tirando um pedaço líquido de você! Só eu percebo isso?! Arrancando fora,
deixando um vácuo no seu corpo! É um absurdo e é óbvio que a mente reage a tudo
isso.
Naquela
época, tive que ir mensalmente fazer exames de sangue. Depois de cair umas três
vezes, comecei a elaborar um truque, uma manobra. Iria enganar minha mente,
reverter esta questão totalmente psicológica. E, quer saber? Deu certo.
Na
oitava ou sétima vez, foi quando atingi o ápice da minha técnica anti-desmaio.
Entrava na sala com fones de ouvido, partia pra ignorância e já avisava para os
enfermeiros nem falarem comigo. Deitava na maca. Colocava a perna pra cima.
Acionava minha playlist “power”, que tinham músicas como “Eyes of the tiger”, do Rocky, e a trilha sonora de “Missão
impossível”. Fechava os olhos e colocava o teatro para funcionar: Eu sou o
Rambo. Eu sou o Rambo. Rambo jamais desmaiaria num exame de sangue. Rambo iria
quebrar a agulha com seus músculos. Eu sou o Rambo.
Fazia
isso pelo tempo necessário até o término do exame. Saía da sala com a cabeça
erguida, como se tivesse feito um favor à humanidade. Comia meu lanche e tomava
meu suco, minhas recompensas. Mantendo a postura do personagem, sempre. Exibia
o pequeno band-aid circular como uma cicatriz de guerra medieval.
Havia
vencido um mal, aprendido uma técnica milenar budista, dominado minha
consciência e inconsciência. Um conquistador.
Poucas pessoas
aprenderam a dominar seu medo. Bruce Wayne é uma delas. Eu sou outra. Eu sou o
Rambo.
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