Ninguém mais tem 20, 23, 24 anos. Acabaram
os últimos anos da adolescência prolongada. A crise dos 30 se transforma na
reta final desta saga, anunciando seu terror: seu ápice como ser humano pode
estar chegando ao fim. Tomar um engradado de cerveja é ter certeza de estar
arrebentado no dia seguinte. Dormir oito horas por dia passa a ser a meta de
quase todos nós, que há anos não fazíamos isso.
No trabalho, alguns ganham muito dinheiro
e guardam. Outros gastam. Para os free
lancers, dobraram o salário de nada para alguma coisa. Para os registrados,
o VR, VT, VA, VSF, todos multiplicaram. Para os desempregados que não foram
efetivados, a preguiça e tristeza tomam conta, e o sonho que você abriu mão
quando entrou na faculdade – jogar videogame a tarde toda – volta a ser uma
realidade. Para os guerreiros que foram seguir o sonho e abrir o próprio
negócio, ou já fecharam, ou estão ricos. Ou ainda acreditam que precisam
persistir um pouquinho mais. Ajuda, pai!
A universidade já acabou para a maioria,
tirando, claro, os retardatários que não souberam desapegar. A pós-graduação,
MBA, curso de astronomia e culinária, são projeções da ausência de ter colegas
de estudo todos os dias e não apenas colegas de trabalho. Uma necessidade
intelectual de se diferenciar e ganhar espaço no mercado de trabalho.
Seus pais já não te sustentam mais. Mas
ninguém saiu de casa ainda, aproveitando a roupa limpa, o quarto arrumado e a
comida gostosa. A necessidade de sair berra ao seu ouvido: preciso do meu
espaço, das minhas regras, de poder deixar minhas meias em cima da mesa e andar
de cueca pela casa toda, não só no meu quarto. Os bravos guerreiros que
decidiram enfrentar alegam: às vezes falta papel higiênico e corro para a casa
dos meus pais para pegar. Volto com a mala cheia de comida e utensílios
domésticos.
Os que namoravam há muitos anos sofrem com
a pressão de se casar. Ou ficam solteiros e passam a viver a vida loka que não
tiveram nas festas da universidade porque tinham que ficar trocando mensagem a
cada 15 minutos. Os corajosos que decidiram casar percebem que dividir por dois
a conta com seu marido/sua esposa é muito mais interessante que dividir por
quatro com a turma da república. Divórcios e filhos, em sua maioria, vem só depois
dos 30. Vamos aproveitar a vida de casados/juntados e dar festas em casa, para
economizar no taxi, na bebida e poder dormir a qualquer momento, junto do
sonhado cão/gato/coelho/peixe que seus pais te proibiam de ter em casa.
Um ou outro amigo já é uma referência na
área que trabalha, um prodígio. Outros, largaram tudo e começam a repensar a
vida inteira. Muitos querem abrir um bar ou restaurante, mas falta dinheiro e
sangue nos olhos.
Quase todos estão decepcionados com o que
fazem e querem mudar de área, de país, de vida. A decepção da profissão entra
em conflito com o salário salgado para alguém dessa idade. Sair seria queimar o
pequeno espaço que você conquistou ao longo dos árduos anos de estagiário e
trainee.
A verdade é que ainda não somos ninguém e
somos tudo. Ao mesmo tempo, a transição é necessária, crucial, cruel, maluca e
importante. Saber trocar a cerveja pelo vinho passa a ser uma necessidade que a
maturidade impõe. E seu corpo também.
Mas o mais importante, isso sem dúvida, é
que você só terá 5 anos entre 25 e 30 anos. Antes disso, não éramos nada.
Depois disso, seremos o que escolhemos ser nesse período. Meus caros, façam bem
a transição. É só para a vida inteira.
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