segunda-feira, 5 de outubro de 2015

piercing pirata


Todos nós já quisemos ser pirata ao menos uma vez na vida. Quando criança, quando assistia “Peter Pan”, quando assistia “Piratas do Caribe”, quando lia “Ilha do Tesouro”. Ser pirata é um estado de espírito, rebelde, inovador, contestador, contra tudo e contra todos, até que se prove o contrário.
            A definição quase se assemelha à adolescência. Mas vai além. O pirata é dono de si próprio e não depende mais dos pais. O pirata é inteligente: não é rebelde por ser rebelde. É rebelde com motivo.
            Dito isto, com uns 18, 19 anos, resolvi fazer um piercing na orelha. No lado esquerda (um dia eu conto minha teoria dos lados do corpo que as pessoas fazem piercings ou tatuam). Eu tinha um cabelo enorme, barba, roupas rasgadas. Definitivamente, só faltava o piercing. Até espada eu tinha.
            Mas claro que meus pais não sabiam e nem podia saber. Já bastava estar fazendo faculdade de Cinema, agora ia aparecer com um piercing? Mas pirata que nós somos, aproveitamos a oportunidade do cabelo para esconder o pedaço de metal no topo da orelha esquerda.
            Era uma sexta-feira. Era quase meu aniversário. Eu queria me presentear com algo. Fui num tatuador na Av. Santo Amaro, escolhi o piercing preto e sentei na cadeira dele. Só esqueci de avisar que eu morro com agulhas. Quando ele furou minha orelha - parecia o gancho do Capitão Gancho - eu apaguei. Acordei uns 3 minutos depois já com o piercing, capotado na maca (neste momento, falhei como pirata. Mas era apenas o começo dessa vida, vamos relevar).
            Meu estado físico estava acabado. Tive que cancelar um aniversário da grande amiga Celina (que faz o favor de anualmente me relembrar deste ocorrido). Estava até com enjoo desse navio em alto mar. Fui pra casa, comprei todos os artefatos para cuidar e pronto. Era pirata. Finalmente pirata quando me olhava no espelho e via o piercing.
            Não inflamou, não deu problema. Depois de uns 8 meses, minha irmã mais nova viu a escondida argola. Quase berrou, mas eu a segurei com rapidez. Virou nosso segredo do tesouro. Pirata bom é pirata sagaz.
            Mas um dia, quando nem mais lembrava do sujeito, chego em casa, e descubro que fui traído por outro irmão. Ele alertou aos marinheiros do barco que eu tinha um segredo. Tive que mostrar pro Capitão. Meu pai nem ligou. Minha madrasta também não. Pude cortar um pouco o cabelo, que já passava de pirata para hippie.
            E rápido assim, acabou minha vida de pirata. A profissão foi pro saco. Já não tinha mais rebeldia, não tinha mais segredos, não tinha mais gancho na orelha. Era agora um cineasta comum, como tantos outros com o brinco na orelha. Um dia cansou. Tirei o piercing.
            Mas o espírito rebelde se manteve. Para mudar o mundo é preciso vê-lo pelo lado de fora. É preciso ser rebelde, é preciso não aceitar como dada as informações. É preciso pensar. É preciso sair da zona de conforto. Não é preciso ter cabelo e barba grande, ou piercing na orelha. É preciso, sim, indagar, pensar, refletir. E ao mesmo tempo, sentir aquele frio na barriga, intenso, apaixonante.

Por isso eu digo, meus caros: é preciso ser pirata uma vez na vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário